ANA’KRÓNIKA.III
(ANA’KRÓNIKAS são relatos impossíveis de colocar rigorosamente no tempo, retirados da memória onde jazem sob grossas camadas de fantasia, não sendo, portanto, nem verdadeiros nem falsos...)
A Tia J’aquina , uma criatura de fé à prova de bala e devoção insaciável, aproveitava todas as oportunidades para aplicar tais predicados.
Por maioria de razão, fazia da caminhada dos 600 metros que distava sua casa à ermida do Padre Manuel Maria do Couto onde ia ouvir a missa dominical, uma peregrinação pessoal que cumpria orando fervorosamente terços a meia voz.
Graças à passada curta e lenta que as pernas lhe permitiam e à técnica verdadeiramente profissional que utilizava nessa tarefa, conseguia oferecer “por alma dos que já lá estão”, um rosário completo.
Dizem que, conta a conta, orava assim:
Avé Maria Cheia de graça,
O Senhor é convosco,
... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...
Agora e na hora da nossa morte e Amena,
Esta é com’à outra,
Esta é com’à outra,
Esta é com’à outra,
... ... ... ... ... ...
Padre nosso que estais nos céus...”
O que contava eram a intenção e a intensidade. De resto, uma vez chegada à ermida, algo cansada mas feliz e rosada, logo participava, ainda mais intensamente, num outro terço conduzido pelo próprio Padre Couto com as mais variadas intenções aplicadas a cada mistério.
No seu hábito de Nossa Senhora do Carmo, na primeira fila, ao centro, a Tia J’aquina quase irradiava luz!
P.S. Todos os dias à boquinha da noite, já deitadas, as crianças lá de casa ouviam, vindas dos corredores, preces sussurradas pela Tia J’aquina que as deixavam meio fascinadas meio aterradas:
“Na hora da minha morte três coisas (vos) quero pedir: a confissão a sufissão ” (absolvissão ) e a cera da Bela Luz. Salvai (-me) “bum Jasus ”.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
ana'krónika(8)
kritik'ando(11)
mitografias(4)
pir'opos(2)
pro''postas(7)