O PRIMEIRO ACTO
Vimos ao mundo imundos, frágeis, totalmente incompetentes e por iniciativa de terceiros.
Chegamos por expulsão e a primeira coisa que temos de fazer é chorar como iniciação à elementar respiração. Depois lavam-nos e entregam-nos a quem nos fez. E, para o bem e para o mal, é de quem vamos, em primeira instância, depender.
Inicia-se uma vida que não é sempre uma caminhada poética mas mais uma avalanche que leva tudo na passagem. Seja lá o que for que venha a ser, será invariavelmente o mais acabado mistério. A mais rematada surpresa. Até ao último momento.
Não, não é igual nascer em Paris ou no mato da Etiópia, nem é igual nascer hoje ou ter nascido na Idade Média, no seio de uma família rica ou numa família miserável. Onde se nasce, quando se nasce ou de quem se nasce faz mesmo toda a diferença. Em qualquer dos casos se poderá ser feliz ou infeliz mas serão felicidade ou infelicidade incomparáveis.
De resto a vida é muito mais que uma questão moral: pode castigar-se alguém com a morte como se pode castigar alguém com a vida.
A vida é mesmo a coisa mais bela que pode acontecer a qualquer um, mas...a qualquer preço? (Tem preço sim. A vida tem sempre um preço: a de um pode até custar a de muitos outros).
Na lógica controladora da civilização criam-se normas onde nunca cabem todos. A própria democracia se satisfaz em contemplar a vontade de metade mais um. Aos outros resta acatar e passar a pertencer à maioria ou, por não querer, não saber ou não poder, não cumprir e, consequentemente, ser condenados.
Cada um sabe de si mais que todo o resto do mundo. Não nos precipitemos, portanto, a ajuizar constantemente as opções dos outros.
É a hora de arejar as máscaras. As máscaras do carnaval, quero dizer.
Licor de leite, o melhor licor do mundo!!
É a altura certa de prepará-lo para o Natal deste novo ano: como todas as bebidas alcoólicas de grande qualidade, vai precisar de tempo para se tornar “macio”.
Preparemos um litro de leite, um litro de álcool alimentar, um quilo de açúcar , um limão galego às rodelas (não usamos os extremos porque amargam), uma vagem de baunilha em duas metades, 50 gramas de chocolate raspado e um copo de água. Tentamos adivinhar o sabor e o odor da mistura destes ingredientes enquanto os reunimos...
...depois, o leite e a água,
...as rodelas de limão, a baunilha e o chocolate .
Mexamos tudo muito bem pela primeira vez. Vamos fazê-lo todos os dias, pelo menos uma vez, durante uma semana.
Mantenha-mo-lo tapado.
Num ápice se passaram sete dias!
Com a nossa ajuda todo o açúcar se dissolveu e os perfumes e essências dos vários componentes foram extraídos pelo álcool.
Filtremo-lo.
Licores, bombons e todas as coisas raras e extraordinárias da vida usam-se com cerimónia e parcimónia ou então a vida torna-se numa montanha de coisas banais que primeiro viram insípidas e depois fastidiosas.
Quando é que deixo de olhar só para mim?
Tenho de procurar-me nos outros, na natureza, no cosmos e mesmo para além dele! Quanto mais longe de mim me descobrir maior hei-de ser. Inevitavelmente!
Há quem viva com quase nada e quem viva com quase tudo. Mas quase todos precisam ter a arte de viver apenas com o possível. Sem que isso seja um drama, um castigo ou uma indignidade.
Se forçarmos, todos, o nível das nossas necessidades inviabilizaremos o futuro. E o futuro não é nosso!
Não somos obrigados a aceder a todos os nossos direitos. Podemos ter de prescindir de alguns se isso for da nossa própria conveniência ou se disso depender a sobrevivência de terceiros.
Já asfixiámos os ares onde voam as aves, já turvámos as águas onde navegam os peixes, já liquidámos florestas luxuriantes onde pastam feras. Os dias são cinzentos e as chuvas ácidas, os mares estão negros e os rios cheiram mal, os campos estão desérticos e as cidades enormes e sujas...
Seremos capazes de ser mais simples para que se continue a ser?...Se não formos, um dia não haverá amanhã!
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